segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cada pessoa, a mudança


 
A cada dia estou mais perplexo com notícias oriundas de um jornalismo vendido e incapaz de cumprir o seu papel em nossa sociedade. Sensacionalismos e misérias engordam contas bancárias de alguns. Edgar Morin acertou quando disse que a violência enlouqueceu e não estamos dando conta desse fato. Freud já havia nos alertado que ao desenvolvermos nossa vida “civilizada” sem essa perspectiva da barbárie mental iríamos vivenciar uma loucura latente e o que é pior, não estamos levando a sério essa situação.

O apóstolo Paulo na carta aos Romanos disse que o que queria fazer não fazia, mas sim o contrário de sua vontade. Essa lucidez lhe encaminhou ao reconhecimento de que uma violência estava em seu ser e que deveria ser observada, mediante a graça, para ela não enlouquecer. Viver com Cristo é esse constante aprendizado para não perdermos o rumo proposto por Jesus.

Jesus disse que deixaria uma paz, e a deixou, com seus discípulos. Entretanto, essa paz seria diferente da paz que o mundo conhece. A paz de Cristo muda o ser humano plenamente. Não é uma paz que se caracterize pela ausência da guerra, pelo contrário, é uma paz que não promove as guerras e sim estabelece a paz. Porque uma coisa é não fazer a guerra, outra coisa é promover a paz. Visto que, aquelas muitas pessoas estão de acordo e isso é muito bom, porém esta é a vida dos cristãos que mudam a realidade.

Quando a mídia sobrevive da violência louca e a propaga de muitas formas não poderemos achar estranho, pois quem vive apenas pra ganhar dinheiro não tem compromisso com a vida e com a paz. Entretanto, quando a violência é sutilmente ensinada por aqueles que deveriam ser um arauto da paz, a situação fica complicada. Quando vemos líderes religiosos disseminando a violência em seus sermões temos que concordar que a violência de fato enlouqueceu.

A mensagem que deveria ser de paz e conforto tem sido de guerra e de morte. “Morte aos pecadores!” gritam com ênfase a ponto de percebermos o ódio na voz. Vale ressaltar que pecado nos dias de hoje, para esses pregadores, está resumido em suas mensagens da seguinte maneira: divórcio e homossexualidade ou homossexualidade e divórcio. Será que Tiago 1.27 não faz mais parte da Bíblia? Será que cuidar da viúva, dos órfãos e não se contaminar com as coisas do mundo perderam a validade? Mundo aqui é tudo aquilo que não se parece com o Reino de Deus. E o que dizer das denúncias dos profetas?

Onde estão os arautos que farão uma marcha para o congresso cobrando uma postura ética dos políticos? Onde estão aqueles que falarão contra a fome, a corrupção? E as injustiças sociais, onde elas são geradas? Infelizmente alguns estão negociando com os políticos sacos de cimentos para a construção de templos e ônibus para retiros. Sem contar nos conchavos realizados em convenções em prol da permanência desse sistema religioso violento enlouquecido. Será que isso também não é pecado?

Acredito que um caminho interessante para a espiritualidade é despertá-la. Fazer a espiritualidade nascer, hoje, confunde-se com a necessidade de despertar a espiritualidade. É despertar essa espiritualidade em cada um. Precisamos de uma vida cristã inteligente, acordada. Onde as pessoas busquem alimentar-se da Palavra que gera “vida e vida em abundância”, e não se deixem intoxicar pelos sermões violentos que contaminam a comunidade tirando-lhe o vigor. Acordar equivale a mudar.

Se quisermos dar uma alternativa para o mundo violento é imprescindível uma mudança de paradigma. Não mais a violência contra os pecadores, mas sim o amor como caminho de conversão e salvação. Será que os pregadores violentos não sabem que uma pessoa violentada terá dificuldades de aceitar o “amor” de quem a violentou? Falam que Deus é amor, mas não conseguem separar pecado de pecadores. Os infelizes não se sentem amados, apenas condenados. O sacrifício do presente em vista de um futuro glorioso prepara de fato um futuro horroroso. Precisamos aprender com Jesus a ver além do pecado. O pecador só se arrepende com amor e não com condenação.

“Se o homem quer viver, deve mudar”, dizia Jaspers. Quanto mais a violência enlouquecida avança, mas urgente se torna o problema da mudança necessária para salvar a vida. Mudar no que precisa ser mudado e fortalecer ainda mais o princípio, o amor. Precisamos saber desfrutar o presente para amar o futuro.

Fábio Porto