A
cada dia estou mais perplexo com notícias oriundas de um jornalismo vendido e
incapaz de cumprir o seu papel em nossa sociedade. Sensacionalismos e misérias
engordam contas bancárias de alguns. Edgar Morin acertou quando disse que a
violência enlouqueceu e não estamos dando conta desse fato. Freud já havia nos
alertado que ao desenvolvermos nossa vida “civilizada” sem essa perspectiva da
barbárie mental iríamos vivenciar uma loucura latente e o que é pior, não estamos
levando a sério essa situação.
O
apóstolo Paulo na carta aos Romanos disse que o que queria fazer não fazia, mas
sim o contrário de sua vontade. Essa lucidez lhe encaminhou ao reconhecimento
de que uma violência estava em seu ser e que deveria ser observada, mediante a
graça, para ela não enlouquecer. Viver com Cristo é esse constante aprendizado
para não perdermos o rumo proposto por Jesus.
Jesus
disse que deixaria uma paz, e a deixou, com seus discípulos. Entretanto, essa
paz seria diferente da paz que o mundo conhece. A paz de Cristo muda o ser
humano plenamente. Não é uma paz que se caracterize pela ausência da guerra,
pelo contrário, é uma paz que não promove as guerras e sim estabelece a paz.
Porque uma coisa é não fazer a guerra, outra coisa é promover a paz. Visto que,
aquelas muitas pessoas estão de acordo e isso é muito bom, porém esta é a vida
dos cristãos que mudam a realidade.
Quando
a mídia sobrevive da violência louca e a propaga de muitas formas não poderemos
achar estranho, pois quem vive apenas pra ganhar dinheiro não tem compromisso
com a vida e com a paz. Entretanto, quando a violência é sutilmente ensinada
por aqueles que deveriam ser um arauto da paz, a situação fica complicada. Quando
vemos líderes religiosos disseminando a violência em seus sermões temos que
concordar que a violência de fato enlouqueceu.
A
mensagem que deveria ser de paz e conforto tem sido de guerra e de morte.
“Morte aos pecadores!” gritam com ênfase a ponto de percebermos o ódio na voz.
Vale ressaltar que pecado nos dias de hoje, para esses pregadores, está
resumido em suas mensagens da seguinte maneira: divórcio e homossexualidade ou
homossexualidade e divórcio. Será que Tiago 1.27 não faz mais parte da Bíblia?
Será que cuidar da viúva, dos órfãos e não se contaminar com as coisas do mundo
perderam a validade? Mundo aqui é tudo aquilo que não se parece com o Reino de
Deus. E o que dizer das denúncias dos profetas?
Onde
estão os arautos que farão uma marcha para o congresso cobrando uma postura
ética dos políticos? Onde estão aqueles que falarão contra a fome, a corrupção?
E as injustiças sociais, onde elas são geradas? Infelizmente alguns estão
negociando com os políticos sacos de cimentos para a construção de templos e
ônibus para retiros. Sem contar nos conchavos realizados em convenções em prol
da permanência desse sistema religioso violento enlouquecido. Será que isso
também não é pecado?
Acredito
que um caminho interessante para a espiritualidade é despertá-la. Fazer a
espiritualidade nascer, hoje, confunde-se com a necessidade de despertar a
espiritualidade. É despertar essa espiritualidade em cada um. Precisamos de uma
vida cristã inteligente, acordada. Onde as pessoas busquem alimentar-se da
Palavra que gera “vida e vida em abundância”, e não se deixem intoxicar pelos
sermões violentos que contaminam a comunidade tirando-lhe o vigor. Acordar
equivale a mudar.
Se
quisermos dar uma alternativa para o mundo violento é imprescindível uma
mudança de paradigma. Não mais a violência contra os pecadores, mas sim o amor
como caminho de conversão e salvação. Será que os pregadores violentos não
sabem que uma pessoa violentada terá dificuldades de aceitar o “amor” de quem a
violentou? Falam que Deus é amor, mas não conseguem separar pecado de
pecadores. Os infelizes não se sentem amados, apenas condenados. O sacrifício
do presente em vista de um futuro glorioso prepara de fato um futuro horroroso.
Precisamos aprender com Jesus a ver além do pecado. O pecador só se arrepende
com amor e não com condenação.
“Se
o homem quer viver, deve mudar”, dizia Jaspers. Quanto mais a violência
enlouquecida avança, mas urgente se torna o problema da mudança necessária para
salvar a vida. Mudar no que precisa ser mudado e fortalecer ainda mais o
princípio, o amor. Precisamos saber desfrutar o presente para amar o futuro.
Fábio
Porto