terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Ano novo, questões eternas

Observando alguns textos bíblicos percebemos Deus formulando questões e não respondendo-as. Jean Yves Leloup afirma que “Deus é a questão para as nossas respostas e não respostas para as nossas questões”. Deus nos pergunta: “Onde estás?”
Diante desse mundo cada vez mais pragmático e cibernético, a falta de respostas concretas e prontas deixam cada vez mais corações angustiados e sem rumo.
Para o ano novo o que se busca é a felicidade e suas variáveis. No entanto, acabamos por nos esquecer de que a felicidade é consequência e não objetivo. Gosto do caminho apontado por Leloup, pois nos coloca no plano real, onde a vida deve ser vivida, e não nesse plano da inconsciência cada dia mais crescente entre os que não querem encarar as questões eternas que acompanham a humanidade:
Felicidade é reencontrarmos em nós a capacidade para amar, porque tudo o que fazemos sem amor é tempo perdido, é feito em má hora, é uma infelicidade... Enquanto tudo o que fazemos com amor é a eternidade reencontrada, a boa hora reencontrada.
Assim sendo, acredito que para questões eternas, saber qual o nosso lugar (existencial), necessitamos de aprender e apreender a “boa hora” para as nossas ações e repouso. De outro modo, seremos infelizes buscando a felicidade, pois identificaremos a felicidade com os objetos do nosso desejo que acreditamos ser a própria felicidade.
Cristo nos orienta a buscarmos o Reino em primeiro lugar e o resto nos será dado por acréscimo. Em outras palavras, a felicidade é justamente o que nos é dado por acréscimo. É viver o ser Supremo. É reencontrar o Ser e então a própria felicidade estará presente.
Um ano novo chegará quando descobrirmos a felicidade de uma consciência que transforma tudo o que lhe acontece em ocasião de crescimento, em momento de evolução. “Onde estás?”
Feliz ano novo!!!
Fábio Porto



NATALIZAR


São misteriosas as forças que concorrem para afirmar a frágil vida humana em meio a tudo que afeta o planeta e a sobrevivência dos seus habitantes. 

Superando debilidades internas e barreiras externas a vida segue seu curso e amplia sua complexidade. Para além da sobrevivência, convida a elaborar sentidos pessoais, fugir de generalizações e a aventurar em originalidade e esperança. 

Há quem queira se realizar reproduzindo padrões conhecidos e evitando riscos, e que prefira criar, sonhar e projetar-se no futuro. Quem abdica dos sonhos ou se fecha aos desafios do futuro, perde parte de sua humanidade e empurra a vida pelo beco da desesperança. 

Viver remete à abertura para múltiplas possibilidades, embora inclua realmente o risco de tropeçar em frustrações. Prossegue quem em algum lugar de si aspira a posse plena do resultado da extraordinária mistura de barro com o fôlego da vida.

Natalizar a vida é afirmar corajosamente o desejo de apropriar-se, em esperança, de tudo que há para ser, e que ainda não se manifestou em plenitude, mas impulsiona a avançar rumo à plena expressão da humanidade.

O Natal foi o mais discreto e marcante sinal da graça divina. É uma celebração que se repete, porque a vida é assim: precisa ser constantemente renovada. 

Natalizar é um convite a acolher o que há gracioso em nós e, em solidariedade, apoiar a realização das feições criativas do humano que ainda não se encarnaram na vida de outros. 

O Natal lembra o que há de singelo e misterioso em meio à trama da vida, mesmo quando se apresenta sob formas inesperadas, como a de uma frágil criança cercada de animais.

Amauri Munguba Cardoso
Natal de 2014