Os dias hodiernos
se configuram como tempos de muita solidão, embora com os avanços tecnológicos
proporcionando uma ambiência com mais proximidade entre as pessoas, essa
aparente comunicação na verdade é uma fuga para aqueles que se sentem de fato
solitários. Cada vez mais relacionamentos em rede e cada vez menos
relacionamentos interpessoais.
O problema dos
relacionamentos em rede é que com a mesma rapidez que nos conectamos nos
desligamos, sem que isso gere alguma dificuldade com aquelas pessoas que
continuam na rede e, também, aquelas que se desconectam e procuram uma nova
rede onde possa cair no mesmo ciclo de (des) construção de relacionamentos.
É sabido que a
solidão é produzida por diversos fatores que perpassam áreas psicológicas e
religiosas, como também classes sociais, econômicas, dentre outras. Entretanto,
por mais que se tente resolver, o problema cada vez mais tem aumentado: pessoas
solitárias e solitárias pessoas.
Uma situação
complicada como essa se dá em níveis mundiais por conta do fator globalização.
Daí surge uma necessidade urgente de olharmos para aquele acontecimento que
mudou e vem mudando a vida de muitas pessoas abatidas pelo medo da solidão. Há
aproximadamente dois mil anos nasce em Belém-Efrata, um local inexpressivo,
aquele que deu ao mundo uma nova perspectiva de construção e reconstrução dos
laços de amizade em todos os níveis de relacionamentos.
O Evangelho de
Lucas nos mostra um Deus que não nos deixa sozinhos, solitários, desamparados,
pois o Deus revelado no menino Jesus é um Deus de companheirismo, amizade e
relacionamentos. Portanto, o Natal significa a presença de Deus no meio do seu
povo, é o Deus-conosco.
Infelizmente o
verdadeiro sentido natalino foi cooptado pelo sistema econômico-financeiro, que
há dois mil anos vem se recriando de maneira que o mais importante não é a
presença do Emanuel, mas sim as benesses que ganhamos com a suposta atuação
e/ou servidão desse salvador materialista. Na atualidade esse sentimento vem
ganhando cada vez mais força devido aos engodos que esse sistema capitalista
neo-liberal vem imprimindo nas mentes e corações dos seus súditos. Natal é
aquecimento de vendas e não de corações solidários; é troca de presentes e não
fraternidade; é na maioria das vezes uma ceia fria e não o compartilhar de
vidas em mesas redondas onde existam igualdade na alteridade.
O mensageiro
anuncia a salvação e sai de cena, visto que, é Cristo quem precisa ficar nos
corações solitários. O advento é aquele momento onde Deus inverte a lógica das
coisas. Advento é tempo de revelação da verdade de Deus. É tempo de salvação,
reconciliação e paz. Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os seres
humanos diz o Evangelho. São os pastores, gente desprezada e que aos olhos da
elite, gente sem classe, são eles as primeiras testemunhas desse fato
inusitado. O mundo da ostentação e do poder não consegue ver a manjedoura, pois
de lá não se encontra respaldo para esse estilo de vida auto-destrutivo. É mais
fácil se encantar com as luzes dos palácios do que com a estrela que brilha
solitária anunciando a chegada do Salvador.
Quando se esperava
a salvação vinda de um berço de ouro, uma manjedoura acolhe aquele que muda a
história da humanidade. É bem verdade que as manjedouras hodiernas tentam dar
um aspecto mais aceitável para aquelas pessoas que não aceitam o absurdo do
Deus encarnado em uma criança. O menino Jesus veio para dar um novo sentido às
nossas vidas. Deus subverteu tudo. Não apareceu nos palácios, nem nos templos.
Pastores, pessoas humildes, à margem da sociedade, foram as testemunhas do
maior acontecimento para nossa humanidade e para toda a criação.
Se Deus inverteu
todas as coisas com o nascimento de Cristo, não poderemos continuar no caminho
que não seja o do menino Jesus. Seguir o seu engatinhar nos levará a uma
caminhada de justiça, paz, solidariedade, fraternidade, e acima de tudo muito
amor. O caminho que vence a solidão é a estrada que leva à manjedoura e não
aquela que leva as lojas e até mesmo aos templos que vendem ilusões.
A grande promessa
de Deus é essa, nas palavras do profeta: "uma
grande luz brilhando na escuridão", discernindo caminhos, oferecendo
orientação para os que estão na solidão, e isso tudo com a outorga daquele que
é ao mesmo tempo Criança, Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte e Princípe da
paz.
Fábio Porto