terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Quando Deus inverte tudo



Os dias hodiernos se configuram como tempos de muita solidão, embora com os avanços tecnológicos proporcionando uma ambiência com mais proximidade entre as pessoas, essa aparente comunicação na verdade é uma fuga para aqueles que se sentem de fato solitários. Cada vez mais relacionamentos em rede e cada vez menos relacionamentos interpessoais.

O problema dos relacionamentos em rede é que com a mesma rapidez que nos conectamos nos desligamos, sem que isso gere alguma dificuldade com aquelas pessoas que continuam na rede e, também, aquelas que se desconectam e procuram uma nova rede onde possa cair no mesmo ciclo de (des) construção de relacionamentos.

É sabido que a solidão é produzida por diversos fatores que perpassam áreas psicológicas e religiosas, como também classes sociais, econômicas, dentre outras. Entretanto, por mais que se tente resolver, o problema cada vez mais tem aumentado: pessoas solitárias e solitárias pessoas.

Uma situação complicada como essa se dá em níveis mundiais por conta do fator globalização. Daí surge uma necessidade urgente de olharmos para aquele acontecimento que mudou e vem mudando a vida de muitas pessoas abatidas pelo medo da solidão. Há aproximadamente dois mil anos nasce em Belém-Efrata, um local inexpressivo, aquele que deu ao mundo uma nova perspectiva de construção e reconstrução dos laços de amizade em todos os níveis de relacionamentos.

O Evangelho de Lucas nos mostra um Deus que não nos deixa sozinhos, solitários, desamparados, pois o Deus revelado no menino Jesus é um Deus de companheirismo, amizade e relacionamentos. Portanto, o Natal significa a presença de Deus no meio do seu povo, é o Deus-conosco.

Infelizmente o verdadeiro sentido natalino foi cooptado pelo sistema econômico-financeiro, que há dois mil anos vem se recriando de maneira que o mais importante não é a presença do Emanuel, mas sim as benesses que ganhamos com a suposta atuação e/ou servidão desse salvador materialista. Na atualidade esse sentimento vem ganhando cada vez mais força devido aos engodos que esse sistema capitalista neo-liberal vem imprimindo nas mentes e corações dos seus súditos. Natal é aquecimento de vendas e não de corações solidários; é troca de presentes e não fraternidade; é na maioria das vezes uma ceia fria e não o compartilhar de vidas em mesas redondas onde existam igualdade na alteridade.

O mensageiro anuncia a salvação e sai de cena, visto que, é Cristo quem precisa ficar nos corações solitários. O advento é aquele momento onde Deus inverte a lógica das coisas. Advento é tempo de revelação da verdade de Deus. É tempo de salvação, reconciliação e paz. Glória a Deus nas alturas e paz na terra entre os seres humanos diz o Evangelho. São os pastores, gente desprezada e que aos olhos da elite, gente sem classe, são eles as primeiras testemunhas desse fato inusitado. O mundo da ostentação e do poder não consegue ver a manjedoura, pois de lá não se encontra respaldo para esse estilo de vida auto-destrutivo. É mais fácil se encantar com as luzes dos palácios do que com a estrela que brilha solitária anunciando a chegada do Salvador.

Quando se esperava a salvação vinda de um berço de ouro, uma manjedoura acolhe aquele que muda a história da humanidade. É bem verdade que as manjedouras hodiernas tentam dar um aspecto mais aceitável para aquelas pessoas que não aceitam o absurdo do Deus encarnado em uma criança. O menino Jesus veio para dar um novo sentido às nossas vidas. Deus subverteu tudo. Não apareceu nos palácios, nem nos templos. Pastores, pessoas humildes, à margem da sociedade, foram as testemunhas do maior acontecimento para nossa humanidade e para toda a criação.

Se Deus inverteu todas as coisas com o nascimento de Cristo, não poderemos continuar no caminho que não seja o do menino Jesus. Seguir o seu engatinhar nos levará a uma caminhada de justiça, paz, solidariedade, fraternidade, e acima de tudo muito amor. O caminho que vence a solidão é a estrada que leva à manjedoura e não aquela que leva as lojas e até mesmo aos templos que vendem ilusões.

A grande promessa de Deus é essa, nas palavras do profeta: "uma grande luz brilhando na escuridão", discernindo caminhos, oferecendo orientação para os que estão na solidão, e isso tudo com a outorga daquele que é ao mesmo tempo Criança, Maravilhoso, Conselheiro, Deus forte e Princípe da paz.

Fábio Porto