quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Discurso de Formatura

Depois de 4 anos bateu a nostalgia misturada com a saudade. Ao participar semana passada de mais uma formatura no STBNe, descobrir que sair do seminário em 2008, mas o seminário não saiu mais de mim. Gostaria de compartilhar meu discurso de formatura que tive o prazer de ser o orador e representar essa turma fantástica. Um xero no S2
 
 
Feira de Santana – 26 de julho de 2008. STBNe – Discurso de Formatura. Turma 2008.1

Magnífico Reitor Dr. Ágabo Borges; Ilustríssima paraninfa da turma professora Erika Marques; Ilustríssimo professor homenageado Mestre Antonio Monteiro; Ilustríssimos professores e professoras do curso de Teologia; funcionários e funcionárias desta casa; familiares; amigos e amigas; igrejas aqui representadas; pastores e pastoras presentes, queridas e queridos colegas, BOM DIA!

Gostaria de agradecer aos meus colegas de turma que me escolheram para representá-los nesse momento tão sublime de nossas vidas. Colegas, por melhor que seja o discurso ele deixa lacunas. Sendo assim, tentarei contemplar nessa alocução os sentimentos da turma mesmo sabendo que toda preleção não tem condições de abarcar tudo, pois cada pessoa tem sua história, subjetividade e, portanto, compreende o mundo a partir de suas experiências. Mesmo convivendo por esses “longos” quatro anos e meio, tivemos experiências que somente cada um pôde apreciar. Procurarei tocar nos pontos comuns aos formandos.

Sei que o momento é aguardado com muita expectativa por parte dos ouvintes. Muitos esperam ouvir um discurso eloquente e intelectualizado, embora não tenha preparado nada formal para a ocasião, pois prefiro fazer desse momento um tempo de rememorar nossas experiências acadêmicas e comunitárias. Que por sinal não foram poucas! Até porque não encontrei motivos suficientes para fazer de outra forma. O seminário foi o lugar onde aprendemos que somos gente, seres humanos normais que devem buscar a cada dia melhorar essa condição. O seminário também nos ajudou a conhecer o outro e a nós mesmos com maestria. Meus amigos e irmãos, a busca por esse conhecimento deve continuar ao sairmos pelo portão do seminário.

O instante ao qual chegamos nesta hora é decisivo. Diante de nossos olhos são edificados alguns dos pilares-base de nossas vidas. O passado e o futuro se reúnem para trazer à memória momentos pontuais e significativos bem como para nos conduzir à projeção do que nos espera. Em fevereiro de 2004 essas pessoas maravilhosas que hoje concluem seus compromissos com o STBNe, (exceto nosso querido Djalma que vem lutando há mais tempo que os outros), deram início à execução de seus sonhos. O chamado de Deus para cumprir mais uma etapa de nossas vidas estava apenas começando. Nossa caminhada em nossas respectivas igrejas estava chegando ao fim e, a jornada seminarial descortinando os seus horizontes.

Bem, gente! O primeiro ano no seminário é muito interessante. Tudo é uma festa. Chegamos aqui sabendo de tudo. Têm até aqueles que acham que só precisam do diploma, queremos ensinar os professores a darem suas aulas. Afinal de contas nos destacamos em nossas comunidades como conhecedores da Bíblia e como bons pregadores (COISA DE CALOURO). Contudo, no decorrer dos dias vamos percebendo que o nosso conhecimento não é definitivo, resultando assim na chamada crise, que a partir de então se tornaria a palavra de ordem. No segundo ano voltamos desertados e agora o que queremos é nos afirmar como veteranos e sustentar a nossa imagem à custa dos calouros. Pensamos em mudar o mundo com nossas ideias o mais rápido possível! O terceiro ano é o momento de questionar a tudo e a todos. O rosto de cada seminarista se parece com uma interrogação. É também nesse tempo que aprendemos que nos ensinam a criticar e depois somos criticados por criticar. Contudo, a partir do quarto ano, o cenário vai mudando, parece que a ficha caiu e descobrimos que não viveríamos apenas de perguntas, mas sim também de respostas, pois seremos cobrados! Parece que quando chegamos ao final a nossa preocupação maior está no campo da geografia, aquelas coisas de lugar e espaço... (para onde vou). Finalmente estamos aqui, diferentes de como chegamos, pelo menos é o que esperamos. Esses anos serviram para nos aperfeiçoar; sermos mais tolerantes, amáveis, compreensivos, prestativos aos nossos semelhantes. Sem dúvida alguma a vivencia seminarial deixou marcas indeléveis em nossas vidas.

Nessa caminhada Deus nos presenteou com pessoas maravilhosas, que diante de todas as dificuldades que lhes são impostas, souberam doar-se para que nós pudéssemos desenvolver nossa capacidade de aprendizado. Nossos professores e mestres, cada um com suas peculiaridades, nos mostraram como proceder diante dos desafios acadêmicos. O contato com o universo teológico gerou em nós o fenômeno do “Numinoso”, bem elaborado por Rudolf Otto, ao mesmo tempo em que nos encantava nos amedrontava pela vastidão de conhecimento. A vivência com nossos mestres nos provaram que a teologia não é engessada, não é fria, não possui apenas uma via, portanto, existem várias possibilidades de se fazer uma teologia relevante para as Igrejas e consequentemente para a humanidade. Por fim, aprendemos como lidar com as pessoas, tratá-las como sujeitos de sua construção histórica, ouvir e entender seus dilemas e limitações.

Para toda essa formação, contamos com excelentes professores e professoras que pediram mais quando achávamos que não tínhamos mais nada a oferecer; que fomentaram discussões; que nos encaminhou pelo extraordinário mundo das Escrituras Sagradas; que por vezes nos lançaram em profundas crises existenciais. Somos eternamente gratos aos nossos mestres pela grande contribuição de nos levar a uma vida menos escura, despertando em nós dúvidas e inquietações que nos levantam novas probabilidades e desafios.

Concluída essa etapa seminarial temos diante de nós o mundo, a comunidade e/ou o campo missionário, onde deveremos realizar uma práxis cristã engajada na vida concreta. Até porque as ferramentas para a execução desta tarefa já nos foi entregue durante o período de estudo acadêmico. Vale lembrar que para exercermos nossos ministérios não deverá existir antagonismo entre a teologia e a atividade pastoral. Porque nem todo teólogo é pastor, mas todo pastor deve ser teólogo.

É na elaboração teológica que deveremos criar condições de mudanças do status quo na comunidade em que estivermos servindo. Saber olhar a realidade é um desafio para cada um de nós. Depois de analisar essa realidade devemos viver a ética cristã, pois como diz o sociólogo francês Edgar Morin: “Todo olhar sobre a ética deve perceber que o ato moral é um ato individual de religação; religação com um outro, religação com uma comunidade, religação com uma sociedade e, no limite, religação com a espécie humana.” Eu acrescento aqui a religação com Deus.

O sucesso do nosso ministério dependerá de como nos comportaremos frente à dura realidade que cerca a maioria das pessoas. E por falar em sucesso, não deveremos nos esquecer de que a maior glória para uma pessoa é ela se parecer com Cristo. Vale ressaltar que um ministério bem sucedido nunca será sinônimo de um carro novo, bom salário, fama, poder, Igreja superlotada, dentre outra coisas, mas sim, de uma vida de serviço ao próximo pautada no amor de Deus.  Serviço ao outro só se faz com o outro. É conhecendo a alteridade e sua história que desempenharemos o nosso papel de discípulos e discípulas de Cristo. É no caminho que vemos e sentimos as necessidades das pessoas. É na beira do caminho que estão caídas as pessoas assaltadas pelas injustiças da vida. Para entender o ser humano, o “ser-aí”, o filosofo alemão Heidegger precisou decompor o cotidiano e apertar a mão do camponês da Floresta Negra.

Deveremos dar nossa contribuição para que aconteça a humanização do humano, como sugere o mestre Marcos Monteiro. A Igreja precisa de pastores e pastoras sensíveis às necessidades integrais das pessoas, que compreendam como escreveu Drummond a respeito do grande Albert Schweitzer, que “não é bastante ouvir Bach, para elevar o espírito. Não é bastante estudar filosofia, para compreender a vida. Nem é bastante o diploma de Medicina, para cuidar dos doentes... pois é preciso colocar a música, a filosofia e a medicina na mala e partir para onde o caboclo, o índio, o pária vivem sua morte à espera da morte definitiva, e viver e morrer com eles”. Ou seja, o nosso desafio é que estejamos prontos para colocar a teologia na mala (como bagagem necessária) e entrar na vida concreta das comunidades. Participar de suas dores e lutas; comemorar suas vitórias e conquistas... rir e chorar com (e como) pessoa de verdade.

Como nossa meta é se parecer com o mestre Jesus, não poderemos nos calar diante das injustiças e descasos para com o oprimido. Não hesitaremos em apresentar o Evangelho de Cristo onde as pessoas têm sua dignidade roubada (também seu dinheiro) por pseudocrístãos que vendem a Palavra de Deus fazendo do outro uma mercadoria e do sagrado um objeto de consumo. Não é possível que o choro de uma criança vítima da pobreza, o odor de corpos mutilados, o som de barrigas roncando, as lágrimas que rolam na face de uma mãe que perdeu seu filho na violência cotidiana, e muitos outros descalabros sejam situações normais para uma sociedade. Não pode ser! Jesus nos mostrou que não. Concordamos com o pensamento do Dr. Benedito Bezerra quando ele diz: “Um dos grandes desafios nesse mundo, é o de manter-se fiel à vocação recebida. O objetivo de todo líder evangélico deverá ser, ao final de seu ministério pessoal, poder olhar para trás e dizer: combati o bom combate, cheguei ao final de minha carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7).

Sei que apenas estamos começando, mas é importante mantermos os olhos fixos em nosso ministério, em nossa vocação, ao tempo em que conseguimos obter uma visão ampla da realidade ao nosso redor: eis o desafio que se impõe não só aos presentes formandos, mas a todo líder evangélico. Acreditando que a Igreja cristã tem um papel fundamental na construção de um novo mundo, onde todos sejam respeitados e tenham o direito de viver com dignidade. Essa mudança terá como base a ética cristã. Cristo é o modelo e único formador para um mundo com possibilidade de vida plena. Para o teólogo alemão Dietrich Bonhoeffer, “a igreja não é uma comunidade religiosa de admiradores de Cristo, mas o Cristo que tomou forma entre os seres humanos.” O não reconhecimento dessa premissa leva a inúmeros erros e consequentemente a injustiças que são praticadas contra as pessoas.

 Amados irmãos e irmãs, qual será a nossa base para vencer esses desafios? A única resposta plausível que se encontra é em Jesus Cristo. Apenas vivendo a esperança do estabelecimento do Reino de Deus entre nós. Viver como o grande pastor Martin Luther King Jr que dizia: I have a dream – eu tenho um sonho. Sonho de um mundo onde não haja desigualdades e nem discriminação. É sonhar com um Brasil livre das mazelas que tanto lhe adoece. É na utopia, o não lugar, que encontraremos a força para prosseguir sempre em frente, ou como diz o apóstolo Paulo: “prosseguir para o alvo”. É fazendo da vida uma poesia, ainda que muitas vezes com lágrimas, mas nunca perdendo a ternura. “Não deixar-se vencer do mal, mas vencer o mal pelo bem”.

Gostaria de concluir esse momento lhe convidando a pensar em uma parte da bela poesia escrita pelo extraordinário teólogo, Rev. João Dias de Araújo, que colocou sua mão no arado e jamais olhou para trás:

 

Que estou fazendo se sou cristão? Se cristo deu-me total perdão?

Há muitos pobres sem lar, sem pão. Há muitas vidas sem salvação.

Meu Cristo veio pra nos remir: o homem todo sem dividir.

Não só a alma do mal salvar, também o corpo ressuscitar.

Que estou fazendo se sou cristão?

 
Muito obrigado!

Fábio Porto

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

 
 
Mulher bela,
Epiderme cor de canela.
Sorriso lindo,
Estrelas iluminando e colorindo...

Ao emergir das águas,
Seu corpo cintilante,
ofuscando tudo ao seu redor.

A lua radiante,
e o sol no seu esplendor,
não podem ofuscar a musa, menina, mulher...
e o nosso amor.

Gatinha, amiga, mulher.
Leveza, simpatia.
O crepúsculo e o arrebol,
Se inspiram na beleza do seu farol.

Feliz aniversário My Queen

Fábio Porto

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Profeta nordestino: de sandália de couro e Bíblia na mão.

Feliz Aniversário Marcos Monteiro.
 
Profeta nordestino: de sandália de couro e Bíblia na mão.

Fiquei extremamente feliz e lisonjeado em participar desse momento de homenagens a esse que é simplesmente: Marcos Monteiro. O que falar de uma pessoa que ao meu ponto de vista encontrou o caminho proposto por Jesus, o Cristo de Deus. Esse camarada escreve bem, fala bem, é inteligente, solidário, teólogo, filósofo, discípulo, pensador e acima de tudo, um amigo, que nos ensina através do contexto da amizade que deveremos ser garimpeiros da humanidade no humano.

Difícil é falar desse nordestino sexagenário, porém vou arriscar algumas palavras que tentam dizer de Marcos Monteiro e da parte de minha vida onde ele ajudou a resignificar, construir, destruir, crescer, diminuir, chorar, sorrir, morrer, viver... Enfim, ele faz parte de uma das melhores fases da minha existência.

Sempre em minha caminhada cristã tive dificuldades de entender a vontade de Deus. As religiões sempre tentam decodificar essa vontade àqueles que são os seus adeptos. Entre idas e vindas na vida cristã chego em 2004 ao Seminário Teológico Batista do Nordeste, STBNe em Feira de Santana.

Em meio ao emaranhado de sonhos, medos, incertezas e perspectivas para essa nova etapa de minha vida, incluindo o cumprimento e/ou o aprendizado da vocação, conheço um pastor, filósofo, amigo, enigmático com sua sandália de couro e uma perspectiva utópica (no sentido de não lugar) do Reino de Deus. Onde o mais precioso dos valores humanos, uma vida de e com dignidade, não a sobrevivência a qualquer custo, faça parte dos nossos relacionamentos. Uma ambiência onde os participantes não são nem concorrentes nem objetos de uso e de consumo, mas irmãos e irmãs engajados na tarefa perene de construir vidas compartilhadas.  

Há algum tempo pensava que minhas dúvidas e questionamentos seriam resolvidos ao pisar o terreno daquela instituição. No entanto, e não sei ainda o porquê, fui parar em uma lecção onde Marcos Monteiro estava falando sobre o Outro do Outro do Outro. Pronto! A partir daquele momento meus dias de paz teológica acabaram. Pois ao invés de respostas, que em muitos casos são insuficientes, fui levado por um desses Outro, onde com todo respeito aos defensores da sistemática incluí Marcos, ao mundo fantástico das perguntas. Se não bastasse pensar no Outro incomensurável, no Outro incompreendido e no Outro complexo, ainda me aparece um ‘outro’ (Marcos Monteiro) nos convocando à difícil, mas apaixonante, tarefa de pensar nesses Outros a fim de que encontremos a melhor maneira de Outrar, viver a alteridade.

Na sala de aula, no Portal da Vida, nos congressos, nas lecções, nos debates, nos momentos comensais (onde aprendi que existe também uma teologia da cozinha), na comunidade de Jesus, dentre outros ambientes, descobri que esse não lugar que tanto queimava meu coração se tornara uma realidade. Viver um Evangelho encarnado faz parte da práxis desse homem. Sua lucidez é incrível. Em uma das suas falas no seminário sobre pastoral urbana ele disse que temos muitas coisas para fazer na construção de um mundo mais justo, igual, fraterno e solidário, e que não deveríamos pegar seus questionamentos sobre o uso da gravata e seus significados por exemplos, e fazer desse assunto um foco onde gastaríamos muita energia, pois essa era uma dificuldade sua e que nós deveremos buscar o caminho que desse sentido a nossa vocação. Lembrando Raul Seixas: "passei a vida inteira brigando com os galhos, quando na verdade o problema estava no tronco".

Certo dia ao perguntar a Marcos se a explicação de um querido professor do STBNe, que também tinha ouvido a mensagem o Outro do Outro do Outro, estava correta, ele me disse que gostaria que esse professor fosse explicar pra ele também, pois nem ele tinha entendido direito. O momento hilário serviu para me mostrar que o aprendizado se dá no caminho. A sabedoria está no fato de aprender sempre, mesmo que se aprenda o que se sabe e assim partir para um novo aprendizado.

Agradeço ao Pai por nos proporcionar vivências com pessoas comprometidas com a vida e com o sentido que ela deve ter no processo de superação das vicissitudes humanas. Marcos Monteiro é uma dessas pessoas iluminadas que habitam esse mundo complexo. Só uma coisa no meu convívio com Marcos me deixou triste, porém desafiado, ele me disse que não tenho mais o direito de morrer de qualquer jeito, pois quem conheceu José Comblin e a sua teologia da enxada pessoalmente, participou de retiros e congressos, deverá ser, no mínimo, assassinado pelos opositores da vida. Oxalá que não seja uma profecia!

Sigo meu caminho, algumas vezes como um jumentinho na avenida, outras como Paranísio da Vila Maravila com seu incurável otimismo sonhando com o dia em que o AGÁ seja acrescentado e tenhamos a Vila Maravilha socialista de vergonha. No entanto, nessa parte da minha vida chamada Marcos Monteiro, aprendi a sonhar e a caminhar na direção da construção de um mundo onde a ética e os valores do Reino de Deus apresentados no Sermão do Monte sejam uma realidade.

Que o Pai continue a abençoar esse profeta nordestino, de sandália de couro e Bíblia na mão, às vezes incompreendido, outras vezes compreensível, e em todas elas amável.

 Fábio Porto

sábado, 29 de setembro de 2012

Primavera

Cecília Meireles
 
A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.

Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Cada pessoa, a mudança


 
A cada dia estou mais perplexo com notícias oriundas de um jornalismo vendido e incapaz de cumprir o seu papel em nossa sociedade. Sensacionalismos e misérias engordam contas bancárias de alguns. Edgar Morin acertou quando disse que a violência enlouqueceu e não estamos dando conta desse fato. Freud já havia nos alertado que ao desenvolvermos nossa vida “civilizada” sem essa perspectiva da barbárie mental iríamos vivenciar uma loucura latente e o que é pior, não estamos levando a sério essa situação.

O apóstolo Paulo na carta aos Romanos disse que o que queria fazer não fazia, mas sim o contrário de sua vontade. Essa lucidez lhe encaminhou ao reconhecimento de que uma violência estava em seu ser e que deveria ser observada, mediante a graça, para ela não enlouquecer. Viver com Cristo é esse constante aprendizado para não perdermos o rumo proposto por Jesus.

Jesus disse que deixaria uma paz, e a deixou, com seus discípulos. Entretanto, essa paz seria diferente da paz que o mundo conhece. A paz de Cristo muda o ser humano plenamente. Não é uma paz que se caracterize pela ausência da guerra, pelo contrário, é uma paz que não promove as guerras e sim estabelece a paz. Porque uma coisa é não fazer a guerra, outra coisa é promover a paz. Visto que, aquelas muitas pessoas estão de acordo e isso é muito bom, porém esta é a vida dos cristãos que mudam a realidade.

Quando a mídia sobrevive da violência louca e a propaga de muitas formas não poderemos achar estranho, pois quem vive apenas pra ganhar dinheiro não tem compromisso com a vida e com a paz. Entretanto, quando a violência é sutilmente ensinada por aqueles que deveriam ser um arauto da paz, a situação fica complicada. Quando vemos líderes religiosos disseminando a violência em seus sermões temos que concordar que a violência de fato enlouqueceu.

A mensagem que deveria ser de paz e conforto tem sido de guerra e de morte. “Morte aos pecadores!” gritam com ênfase a ponto de percebermos o ódio na voz. Vale ressaltar que pecado nos dias de hoje, para esses pregadores, está resumido em suas mensagens da seguinte maneira: divórcio e homossexualidade ou homossexualidade e divórcio. Será que Tiago 1.27 não faz mais parte da Bíblia? Será que cuidar da viúva, dos órfãos e não se contaminar com as coisas do mundo perderam a validade? Mundo aqui é tudo aquilo que não se parece com o Reino de Deus. E o que dizer das denúncias dos profetas?

Onde estão os arautos que farão uma marcha para o congresso cobrando uma postura ética dos políticos? Onde estão aqueles que falarão contra a fome, a corrupção? E as injustiças sociais, onde elas são geradas? Infelizmente alguns estão negociando com os políticos sacos de cimentos para a construção de templos e ônibus para retiros. Sem contar nos conchavos realizados em convenções em prol da permanência desse sistema religioso violento enlouquecido. Será que isso também não é pecado?

Acredito que um caminho interessante para a espiritualidade é despertá-la. Fazer a espiritualidade nascer, hoje, confunde-se com a necessidade de despertar a espiritualidade. É despertar essa espiritualidade em cada um. Precisamos de uma vida cristã inteligente, acordada. Onde as pessoas busquem alimentar-se da Palavra que gera “vida e vida em abundância”, e não se deixem intoxicar pelos sermões violentos que contaminam a comunidade tirando-lhe o vigor. Acordar equivale a mudar.

Se quisermos dar uma alternativa para o mundo violento é imprescindível uma mudança de paradigma. Não mais a violência contra os pecadores, mas sim o amor como caminho de conversão e salvação. Será que os pregadores violentos não sabem que uma pessoa violentada terá dificuldades de aceitar o “amor” de quem a violentou? Falam que Deus é amor, mas não conseguem separar pecado de pecadores. Os infelizes não se sentem amados, apenas condenados. O sacrifício do presente em vista de um futuro glorioso prepara de fato um futuro horroroso. Precisamos aprender com Jesus a ver além do pecado. O pecador só se arrepende com amor e não com condenação.

“Se o homem quer viver, deve mudar”, dizia Jaspers. Quanto mais a violência enlouquecida avança, mas urgente se torna o problema da mudança necessária para salvar a vida. Mudar no que precisa ser mudado e fortalecer ainda mais o princípio, o amor. Precisamos saber desfrutar o presente para amar o futuro.

Fábio Porto

terça-feira, 17 de julho de 2012

Avivamento Missionário - 14.07.12 - 83/100 dias de oração pelo Brasil

Avivar é recuperar, restaurar a vida. Avivamento missionário deveria ser a capacidade de recuperar, de restaurar a missão. Digo deveria, pois a história recente indica que resumimos missão ao trabalho da proclamação de uma mensagem com efeitos sobre uma palavra - a palavra alma - e não sobre uma pessoa - o ser humano e sua vida multidimensional - com repercussões somente em outro tempo e local, o futuro, o céu.

A lógica do paradigma predominante de avivamento é um individuo "ganhando" mais um indivíduo, que "ganha" mais um indivíduo, que "ganha" outro indivíduo", que "ganha" mais um indíviduo ...

Além disso, a missão que pretendemos avivar, não é a missão dos atos de Jesus. O paradigma que se busca recuperar é o dos atos dos apóstolos. Uma coisa é estudar a vida de Jesus, seu caráter e ensinos e orar e trabalhar para que isso seja restaurado em nós; outra, tomar a vida dos apóstolos para avivá-la em nós.


A diferença é que, os atos dos apóstolos, conquanto estejam relacionados à missão de Jesus, são uma manifestação inicial e incompleta do que a convivência de Jesus fez nos discípulos. Em Jesus vemos a manifestação completa da missão a ser avivada. Daí os primeiros discípulos terem investido tempo no registro da vida de Jesus e na reflexão teológica sobre ela, registros conhecidos hoje como Novo Testamento.

A questão é que o paradigma "atos dos apóstolos" é mais facilmente adaptável ao mundo em que vivemos do que o paradigma "Jesus". Os atos dos apóstolos evidenciam ação com resultados imediatos em termos de números de decididos e de igrejas. Os atos de Jesus evidenciam trabalho artesanal, de burilamento de vidas, com efeitos mais demorados, porém profundos, extensos e duradouros.

Somos a sociedade da velocidade, do descartável. Nos empenhamos na pressa para obter resultados na proclamação e "descartarmos" pessoas tão logo elas declarem crer. Crendo, basta que os novos declarantes memorizem que a missão deles é levar outros a declararem que crêem. Alcançado esse objetivo, seu único trabalho com o declarante é que ele memorize que deve reproduzir uma única ação: levar outro a declarar o mesmo.

Nesse estágio a missão com o novo declarante, novo decidido ou crente novo, terminou e ele já pode ser "descartado", ou seja, ser deixado só, na missão de conquistar novos declarantes. O importante é que o resultado - pessoas declarando que crêem - se multiplique.
Os apóstolos conviveram pelo menos 3 anos com Jesus, aprendendo com seus exemplos e palavras, o sentido do viver, os valores com os quais deveriam estar comprometidos e as ações que deveriam ser desenvolvidas em favor do próximo.

No avivamento missionário em evidência, investir tempo conhecendo a vida e ensinos de Jesus é desnecessário e até prejudicial ao modelo reprodutivo em série. Evidência disso é que, no processo de identificação de avivamento raramente se inclui o verbo preparar. Preparar é apenas um detalhe que se resume em aprender técnicas que nos ajudem a levar mais e mais pessoas a "declararem" a fé em Jesus.

Investimento pesado, portanto, é feito na mobilização para envolvimento de pessoas e levantamento de recursos e capacitação para a reprodução, visando resultados imediatos. Não há tempo, nem dinheiro a perder com estudo, exceto se for de técnicas de resultados imediatos.

Investimos em Coentro, não em Carvalho.

Sonho com um avivamento missionário. Ele gira em torno do conhecimento e vivência da vida de Jesus. Se desdobra em pessoas apaixonadas e comprometidas com Jesus, agindo segundo seus dons onde estão inseridas no cotidiano. Sua ação é, primeiramente testemunhal e, como teria dito São Francisco de Assis, se necessário, usando palavras.
Testemunho de vida em primeiro lugar.
No testemunho dos 72, ao retornarem do estágio missionário, não foi evidenciada a quantidade de decididos. Diante da manifestação empolgada com o poder do nome de Jesus ("Senhor, até os demônios se submetem a nós, em teu nome".(Lc. 10:17)), eles ouviram de Jesus: "alegrem-se, não porque os espíritos se submetem a vocês, mas porque seus nomes estão escritos nos céus". O fato a ser enfatizado é a alegria de pertencerem e serem norteados por Deus.

Gosto de movimentos, eles me empolgam e coopero da forma que tenho aprendido e crido. Gosto mais ainda, quando estão a serviço do testemunho e não somente do anúncio da vida de Jesus. Por isso, o avivamento missionário para o qual me convido e te convido-o a orar é o que visa restaurar, recuperar a vida amorosa de Jesus em nós e sua presença iluminadora em indivíduos e estruturas de sustentação da vida.

Abraços do seu pastor,
Edvar Gimenes

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Adoradores de Mamom ou de Cristo?


 “Sobre terra ou mar, onde Deus mandar irei”. No início essa é a frase que geralmente permeia o ideal das pessoas que se sentem vocacionadas a uma missão. Restringindo mais um pouco: pessoas que se sentem chamadas para pregar ou cantar. Em outras palavras e na linguagem evangélica, aquelas são chamadas a ministrar e estas a adorar.

Vivemos um mundo marcado pelo consumo desenfreado e muitas vezes inconsequente. A busca pelo Ter não se mostra nem um pouco preocupada com os resultados funestos que possam ocorrer. O Ser caiu de moda. O Ter em detrimento do Ser é o caminho. Quando essa é uma ação praticada no mercado financeiro há de se perceber que isso faz parte do cerne desse seguimento. No entanto, quando essa maneira de agir caracteriza quem se diz seguir a Jesus fica inconcebível tal semelhança.

Parece que os evangélicos estão perdendo o rumo quando não questionam essa realidade onde tudo está voltado para o dinheiro. Deus está sendo confundido com bens materiais. Precisamos ter em mente versículos como “de graça recebestes, de graça dai.” (Mateus 10:8b). Pois ao entrarmos em contato com pessoas que querem dá seu testemunho ou pregar, quase todas, quase todas mesmo, cobram para falar daquilo que Jesus fez em suas vidas. Entretanto, ao invés de cobrança pelo serviço prestado ao público, elas dizem apenas ser uma oferta de amor recebida para a manuntenção do seu ministério.  “Pregadores e pregadoras” que mais se parecem com artistas do que com pregadores da Palavra de Deus. Não dá pra entender como um pregador que diz falar em nome de Jesus cobre por uma mensagem até 15 mil reais. O pior é que têm Igrejas e eventos que pagam. Só pra lembrar: o salário mínimo é de R$ 622 e a maior parte dos brasileiros vivem com ele, incluíndo muitos evangélicos dessas igrejas que mantem esse sistema que nada tem de parecido com o Reino de Jesus.

E o que dizer da área musical na igreja. Passamos de adoradores para artistas ávidos pelo sucesso. Está sendo usada as mesmas categorias do mercado, tanto por quem contrata, como por quem é contratado. Exigências como hotéis 5 estrelas e carros de luxo para o transporte até o local do show, que muitas vezes é um templo, está sendo tão normal que caso nao seja cumprida as exigências, às pessoas que dizem ser canal de bênção para o povo de Deus, não vão e ponto final. Isso porque outro pastor e/ou líder contratante estará realizando essas patologias megalomaníacas. Também não dá pra entender como existem igrejas que pagam até 7 mil reais para um cantor participar de um culto e cantar no máximo 30 minutos ou algumas músicas. Em um culto ele ganha o que a maioria dos pastores e pastoras não ganham em três meses de trabalho. Sem falar no sustento dos missionários e missionárias que estão no campo, muitos até passando necessidades.

Em Mateus 6.21 Jesus disse que “onde estiver o seu tesouro, aí estará o seu coração”. O coração simboliza a realidade interior em que  a vida encontra sua verdadeira expressão. A busca pelo reconhecimento e afirmação de muitos cantores e pregadores faz com eles se tornem cada vez mais dependentes das compensações e, consequentemente, mais alienados. Perderam a capacidade de se ver. Perderam o contato com a realidade. Vivem a partir de uma grande fantasia criada por eles mesmos. A fronteira entre a realidade e a ilusão é bem estreita.

O louvor e a pregação tem se tornando cada vez mais funcional e menos pessoal. Diz mais respeito ao fazer do que ao ser. Precenciamos a perda da sabedoria e da santidade na sociedade (Igreja) que busca cada vez mais técnicos e especialistas. Quer trazer uma pregação ou um louvor abençoado para a sua igreja, traga, se puder pagar é claro, o que está no topo da fama ou aquele que está com sua agenda lotada. A Igreja não valoriza mais o sábio, mas o expert ou o técnico. Em outras palavras, aquela pessoa que é, na linguagem evangélica, “uma das maiores autoridades” em determidada área.

Muitas igrejas vêm se transformando em centro de entretenimento religioso. Perdemos a noção do que significa ser cristão.

Vamos parar por aqui, embora esse assunto continue se atualizando no nosso cotidiano, lembrando a parte da música citada no início dessa reflexão que encorajou muitos corações vocacionados no passado e que nos dias atuais parece ter perdido não só seu sentido, como sofreu alguns acréscimos: “Sobre terra ou mar, onde Deus mandar (claro que mediante pagamento, ou melhor, oferta de amor) irei”.

Com base na Palavra de Deus aprendamos a ser os “verdadeiros adoradores que adoram ao Pai em espírito e em verdade”.

 Fábio Porto

domingo, 13 de maio de 2012

Mãe uma expressão do amor de Deus


A linguagem humana não consegue declarar a essência – Mãe – essa dádiva de Deus à humanidade. Por mais que os poemas e as músicas tentem, não conseguem definir o que é ser mãe. Assim sendo, não queremos tentar enquadrar as mães em alguma categoria que possa ser compreendida por nossa razão ou até mesmo pelos sentimentos. O que desejamos é apenas louvar a Deus pela sua criação.

Quem lê essas palavras já teve o privilégio de ser, pelo milagre da criação, envolvido pelo ventre materno por alguns meses de aconchego, proteção, carinho e tudo mais que apenas o amor pode conter. Por esse processo passaram até mesmo aquelas que hoje tem a satisfação de ser mãe, mainha, mamãe... e ao sair do conforto do útero somos envolvidos por braços que acolhem e nunca cansam de amar por gestos inefáveis. 

Portanto nesse dia que chamamos dia das mães, onde temos plena convicção de não ser apenas esse dia e sim todos os dias, horas, minutos, segundos e momentos, que demonstram o amor de mãe, queremos homenagear todas as mães agradecendo a Deus pela existência dessas que dão ao mundo a certeza do verdadeiro amor. Em outras palavras, mãe é também uma expressão do amor de Deus por nós, e deste modo, não tentemos explicar o inexplicável, e sim, viver intensamente esse amor de mãe.

Um xero no coração da minha mainha: Nice!!!

Parabéns a você que é mãe!!



Fábio Porto

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jesus perdoa e muitos pastores condenam




Infelizmente alguns estão equivocados quanto a graça do Pai em relação ao perdão e a vivência religiosa. Estão cumprindo leis e ritos dizendo que estão sendo fiéis a Deus. Lembrando que a única coisa que Jesus pediu foi para amar a Deus e ao próximo do mesmo jeito que ele amou.

Muitos líderes sempre criticaram, com razão, movimentos que surgem trazendo soluções para a espiritualidade e principalmente para o crescimento numérico dos membros em dias de culto. No entanto, nos dias hodiernos alguns estão enveredando por esses caminhos que antes eram censurados. Muitos desses pastores dizem ser defensores da sã doutrina, e se orgulham de não participar de nenhuma seita, apesar de na prática serem sectários.

O que observamos é que se um pastor de alguma igreja grande começa a dá seminários e treinamentos, geralmente outros líderes não olham o caráter ou vida desse pregador. Não levam em conta se ele se parece com Jesus que é o pressuposto básico e único para um líder cristão. O que está dando a esses pregadores a autoridade para ensinar é apenas o número de membros que eles têm em suas igrejas. Em outras palavras, o que vale é o salário, fama, carro, quanto eles mandam para as campanhas de missões e plano cooperativo, o sucesso. Liderança assim está nos moldes de Mamon e não de Jesus.

Ficamos tristes quando verificamos que pastores com anos de ministério, que sempre criticaram os modelos prontos e encaixotados, estão aceitando esses discursos que ao invés de libertar aprisionam as pessoas dentro de um calabouço doutrinário, onde o que não estiver de acordo é do demônio e deve ser expurgado. A cada viagem e congresso mudam o direcionamento de suas igrejas.

Alguns treinamentos estão formando tiranos e não discípulos e discípulas de Cristo. Pastores que se orgulham de excluir pessoas que não estão de acordo com os seus devaneios teológicos. O nosso nordeste, “terra que se plantando tudo dá”, tem recebido uma teologia sulista, não mais a do sul dos EUA, pois essa ideologia já está presente no inconsciente coletivo religioso brasileiro, onde pessoas divorciadas, por exemplo, não podem servir a Jesus e para eles estão condenadas ao inferno. Jesus perdoou uma prostituta e a enviou a pregar o evangelho, porém para alguns pastores os divorciados só servem para “limpar banheiro” e olhe lá. Pastores que ao invés de cuidar das ovelhas que já sofrem o estado de separação, ainda levam uma mensagem de mais separação aos que sofrem. Não levam em conta que em todo rompimento existe muita dor, principalmente por parte daqueles que acreditam na família como sendo uma bênção de Deus e que estão sofrendo pela separação. Tem ainda aqueles que dizem que a mulher mesmo apanhando não pode fazer nada que não seja permanecer nisso que eles chamam de casamento. Pastores que acreditam que casamento seja um papel autorizado pelo Estado e não a união de corações com a benção de Deus. Não importa quem errou todos os divorciados estão condenados, dizem eles usando a Bíblia. Esse evangelho só pode ser o dá marcha ré.

Pastores e líderes que foram chamados para anunciar o evangelho da libertação estão tomando parte no juízo, que só pertence a Deus, e colocando no inferno ou excluindo das atividades da igreja aqueles e aquelas que Jesus perdoou. Na ordem dos pastores não pode existir divorciados, mas os que mentem, são arrogantes, facciosos, só pensam em dinheiro, maltratam suas famílias por serem machistas, será que essas coisas não são pecados? Será que aqueles que estão separados dentro de casa não estão separados diante de Deus? Esses pregadores precisam voltar a estudar a Bíblia, pois estão se valendo de sua autoridade pastoral, ao mesmo tempo em que condenam aqueles que se intitulam apóstolos ou bispos, para ensinar coisas que dizem respeito às suas idéias.

Porque será que as armas desses pregadores só estão apontadas para homossexuais e divorciados? Porque não existe uma marcha em direção ao congresso nacional mostrando que os evangélicos estão indignados com a corrupção e os desmandos da politicagem brasileira (inclusive daqueles políticos que se dizem crentes)? Porque os profetas só são profetas nos templos e nunca nas ruas? Onde estão os defensores da Bíblia que não observam o cotidiano para saber que na injustiça nunca teremos paz como bem afirmou o salmista? Há muito deixamos de ser protestantes e/ou cristãos para sermos evangélicos, eis aí um verdadeiro tema a ser pregado.

Santo Agostinho alertou que “se escolhemos partes do evangelho em que acreditar, não é no evangelho que acreditamos, e sim, em nós mesmos”. Partindo desse pressuposto, podemos concluir que alguns pregadores já perderam a fé em Deus, pois acreditam em si mesmos dizendo que estão acreditando em Deus. São pregadores de “Deus” sem Deus. Pastores de “fé” sem fé. Seguem uma linha fundamentalista ortodoxa dizendo que estão seguindo uma suposta revelação progressiva acreditando que Gênesis foi o primeiro livro a ser escrito e apocalipse o último. Esquecem o que estudaram nos seminários onde a TENAK ou os escritos do Antigo Testamento hebraico não estão relacionamentos dessa mesma maneira que temos hoje na Bíblia. Criticam os que seguem a lei e estão construindo outras leis. Querem ser literalistas, mas não guardam o sábado e nem sacrificam no templo. Alguns da mesma forma que os escribas e fariseus usam o texto bíblico para condenar as pessoas dizendo “está escrito”, mostrando dessa forma que também não entenderam o Espírito da Lei. Jesus também disse que está escrito que devemos amar ao próximo, ser misericordiosos e ajudar os fracos. Citar versículos sem contexto em prol de uma causa não é honesto, pois confundem aqueles que têm pouco conhecimento da Palavra. “Um amontoado de blocos não é uma construção.” Não condeno esses pregadores, apenas acredito que estão equivocados em suas interpretações bíblicas.

Essas palavras são também minha oração. Oro para que o sonho do pastor batista Martin Luther King Jr aconteça ainda em nossa geração de cristãos, onde possamos andar de mãos dadas reconhecendo que todos e todas estão no mesmo nível de pecadores perdoados e justificados diante de Deus. Onde a arrogância ministerial seja trocada pelo avental do serviço cristão que é o doar de si ao próximo. Oro para que o mundo veja em nós não os novos inquisidores, mas os arautos de uma mensagem que liberta o ser humano do pecado. Oro para que os pregadores, pastores e pastoras, não confundam as pessoas com os seus pecados e queiram resolver o problema do pecado matando as pessoas pecadoras como era na antiga aliança. Regra de ouro: por trás de todo pecado existe um ser humano que é amado do Pai.

Como a minha oração pode não ser ouvida, nem aceita e até mesmo contestada, oro para que a oração de Jesus em João 17 seja concretizada entre os discípulos e discípulas de Cristo: “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste”.

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” João 8.32. Amém!

Fábio Porto

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Uma Rosa de 80 anos



Era Outono de 1932, em um momento de rara beleza, o mundo recebe mais uma criança que encheu a Fazenda Gentir de alegria e esperança. No dia 08 de abril o casal Hortêncio Pereira da Silva e Laurinda Rosa da Silva estava com seus corações felizes pela chegada de Maria Madalena Rosa da Silva.

Essa criança que no seu crescimento desabrochava perfeita como uma rosa, toda tarde por 17 anos ajudava seu pai Tênso, como era carinhosamente chamado, a separar as vacas dos bezerros para que no outro dia bem cedo o leite fosse tirado.

Como toda menina de sua época, durante o dia desenvolvia muitas atividades, tais como, fiava na roda, fazia bico de renda, fazia cobertor, costurava, fazia requeijão, carne do sol e etc. Nessa lida sempre tinha a companhia do seu querido pai.

Por falta de oportunidade nunca frequentou uma sala de aula, ainda mais que a escola além de ser distante, só estudava padres e professoras. Se não bastassem essas dificuldades, tinha ainda a questão de seu pai, pois ele não a deixava sair de casa para estudar, passando adiante uma tradição que ele havia herdado. Vale ressaltar que mesmo não tendo acesso a uma sala de aula, Maria Madalena não deixou de se tornar uma mulher virtuosa e cheia de sabedoria, fruto de um coração repleto de amor e compromisso com a vida.

No entanto, a menina cresceu, e no dia 10 de maio de 1949, aos 17 anos, Maria Madalena casou-se com Deusdete Ferreira Porto (em memória). Na Igreja da fazenda Tábua, onde ela chegou linda com seu vestido de noiva e montada em um cavalo, uniu-se ao seu esposo pelos laços do matrimônio. Além da presença da família e dos amigos, tiveram como padrinhos de casamento José (Cajá) e Telvina, moradores da fazenda Três Lagoas.

Aquele foi de fato um dia festivo para Maria Madalena e Deusdete, pois além do casamento, eles batizaram na mesma Igreja Ercila Rosa da Silva (Tia Sila) que é sua única irmã.

Da união desse casal nasceram nove filhos. Em 1950 Alaíde, a primogênita do casal, deu início ao aumento da família. Depois dela vieram Valdenice, Maria Anísia  e Jay (em memória), Siole, Pedro, Lédia, Creuza e Carlinhos.

Louvamos a Deus pelos 80 anos dessa mulher virtuosa que construiu uma família cheia de amor e paz. Que Jesus continue fazendo acontecer sua vontade na vida dessa que é mãe, irmã, vovó, bisa, amiga e acima de tudo, uma cristã exemplar: Maria Madalena.

Acreditamos que o poeta pensou em mulheres como essa ao escrever:

Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida....
Maria, Maria... Maria Madalena.

Que essa mulher, que tem Rosa até no nome, continue a perfumar nossas vidas com a sua existência e carinho, muitas vezes silenciosa, mas sempre presente. Essa é a oração que seus familiares e amigos fazem em seu favor:

Que o SENHOR te abençoe e te guarde;

O SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti;

O SENHOR sobre ti levante o seu rosto e te dê a paz.

Números 6:24-26

08 de abril de 2012


domingo, 8 de abril de 2012

Páscoa, um salto para a vida


A palavra páscoa é usada, a princípio, na língua portuguesa para designar a festa dos judeus. No hebraico o termo é “pasach” que significa “saltar por cima”. A tradição bíblica se apropriou dessa palavra para narrar o episódio onde o anjo da morte saltou por cima das casas onde havia a marca do sangue do cordeiro pascal, resultando assim, na morte dos primogênitos dos egípcios. Logo depois disso, Faraó permitiu a saída do povo de Javé da escravidão no Egito (Êxodo 12). Deste modo, ficou estabelecido por Deus que a páscoa deveria ser sempre lembrada e festejada, pois as festas para os Israelitas servem para reviver no presente o passado que marcou a sua história. A escravidão é algo a ser amargamente relembrado. A liberdade é a maior dádiva que possuímos. O cativeiro destrói as pessoas, mas o Espírito de Deus concede liberdade.

Em 1 Cor 5:7 lemos que Cristo é a nossa Páscoa. Essa confissão faz alusão à liberdade conquistada por Jesus na cruz, o êxodo cristão. A páscoa no Antigo Testamento marcava a saída da escravidão e o início de Israel. Da mesma forma, o Cordeiro Pascal, nos liberta da escravidão do pecado e nos proporciona um salto para uma vida cheia de graça e de liberdade.

Nossa espiritualidade a partir da obra reconciliadora e redentora de Cristo deve ser marcada pela gratidão a Deus, e pelo amor compartilhado entre nós seus filhos e filhas, a fim de que, a Páscoa tenha em nós o seu verdadeiro sentido: liberdade!

Portanto, Cristo nos chama para uma vida sem escravidão moral, ética e espiritual. Onde cada um de nós possa saltar por cima de tudo aquilo que atrapalha o nosso êxodo cristão que tem como finalidade: a saída do cativeiro para a vida, e vida abundante em Cristo Jesus, o Cordeiro Pascal.
Fábio Porto  


terça-feira, 3 de abril de 2012

O evangelho da marcha ré

Diante das notícias sobre o enriquecimento ilícito de um que se diz apóstolo, onde algumas pessoas chamaram esse fato de escândalo, que ao meu vê não tem nada disso, pois escândalo foi matarem Jesus Cristo em uma cruz.

Essa reportagem (encomendada pelo concorrente, mostrando assim a seriedade do jornalismo brasileiro) seria uma questão de tempo, assim como será para os outros que seguem pelo mesmo...
caminho. Portanto, a única coisa que tenho a dizer é que concordo com o adágio popular que sintetiza muito bem a funesta situação: "um sujo falando do mau lavado".

Obs.: Evangelho é outra coisa. Por isso não há do que os discípulos e discípulas de Cristo sentirem-se envergonhados. É até bom que isso aconteça para que sejam identificados os falsos pregadores.

Que a graça do Pai nos abençoe!!!

terça-feira, 27 de março de 2012

A prosperidade da decepção


Quando, na década de 80, a teologia da prosperidade chegou ao Brasil, ela veio como uma nova tese sobre a fé, prometia o céu aqui para o que tivesse certo tipo de fé. As promessas eram as mais mirabolantes: garantia de saúde a toda prova, riqueza, carros maravilhosos, salários altíssimos, posições de liderança, prosperidade ampla, geral e irrestrita. Lembro-me de, nessa época, ter ouvido de um ferrenho seguidor dessa teologia que, quem tivesse fé poderia, inclusive, negociar com Deus a data de sua morte, afirmava que, na nova condição de fé em que se encontrava, Deus teria de negociar com ele a data de sua partida para mundo dos que aguardam a ressurreição do corpo. Estamos, há cerca de vinte anos convivendo com isso, talvez, por isso, a grande pergunta sobre essa teologia seja: Como têm conseguido permanecer por tanto tempo? A tentação é responder a questão com uma sonora declaração sobre a veracidade desta proposição, ou seja, permanece porque é verdade, quem tem fé tem tudo isso e muito mais. Entretanto, quando se faz uma pesquisa, por mais elementar, o que se constata é que as promessas da teologia da prosperidade não se cumpriram, e, de fato, nem o poderiam, quando as regras da exegese e da hermenêutica são respeitadas, percebe-se: não há respaldo bíblico. Então qual a razão para essa longevidade? 

Em primeiro lugar, a vida longa se sustenta pela criatividade, os pregadores dessa mensagem estão sempre se reinventando, bem fez um de seus mais expoentes pregadores quando passou a chamar seu programa de TV de “Show da Fé”, de fato é um espetáculo ás custas da boa fé do povo. Mesmo os mais discretos estão sempre expondo o povo, em alguns casos, quando mais simplório melhor, em outros, quanto mais bonita, e note-se o feminino, melhor. Além disso, é uma sucessão de invencionices: um dia é passar pela porta x, outro é tocar a trombeta y, ou empunhar a espada z, ou cobrir-se do manto x, e, por aí vai. Isso sem contar o sem número de amuletos ungidos, de águas fluidificadas e de bênçãos especiais. Suas igrejas são verdadeiros movimentos de massa, dirigidos por “pop stars” que tornam amadores os mais respeitados animadores de auditório da TV brasileira. 

Em segundo lugar, a vida longa se mantém pela penitência; os pregadores dessa panacéia descobriram que o povo gosta de pagar pelos benefícios que recebe, algo como “não dever nada a ninguém”, fruto da cultura de penitência amplamente disseminada na igreja romana medieval, aliás, grande causadora da reforma protestante. Tudo nessas igrejas é pago. Ainda que cada movimento financeiro seja chamado de oferta, trata-se, na prática, de pagamento pela benção. Deus foi transformado num gordo e avaro banqueiro que está pronto a repartir as suas benesses para quem pagar bem, assim, o fiel é aquele que paga e o faz pela fé; a oferta, nessas comunidades, é a única prova de fé que alguém pode apresentar. Na idade média, como até hoje, entre os romanos, Deus podia ser pago com sacrifícios, tais como: carregar a cruz por um longo caminho num arremedo da via “crucis”, ou subir de joelhos um número absurdo de degraus, ou, em último caso, acender uma velinha qualquer, não é preciso dizer que a maioria escolhe a vela. Mas, isso é no romanismo! Quem quer prosperidade, cura, promoções, carrões e outros beneplácitos similares tem de pagar em moeda corrente, afinal, dinheiro chama dinheiro, diz a crença popular. E tem de pagar antes de receber e, se não receber não pode reclamar, porque Deus sabe o que faz e, se não liberou a bênção é porque não recebeu o suficiente ou não encontrou a fé meritória. Esses pregadores têm o consumidor ideal. 

Em terceiro lugar são longevos porque justificam o capitalismo, embora, segundo Weber, o capitalismo seja fruto da ética protestante, (aliás, a bem da verdade é preciso que se diga que o capitalismo descrito por Max Weber em seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo” não é, nem de longe, o praticado hoje, que se sustenta no consumismo, enquanto aquele se erguia da poupança, além disso, como sociólogo, Weber tirou uma foto, não fez um filme, suas teses se circunscrevem a sua época e nada mais) a fé, de modo geral, evangélica nunca se deu bem com a riqueza. A chegada, porém, dessa teologia mudou o quadro, o capital está, finalmente, justificado, foi promovido de grilhão que manieta a fé em troféu da mesma. Antes, o que se assenhoreava do capital tornava-se o avaro acumulador egoísta, agora, nessa tese, é o protótipo do ser humano de fé. Antes, o que corria atrás dos bens materiais era um mundano, hoje, para esses palradores, é o que busca o cumprimento das promessas celestiais. Juntamente com o capitalismo, essa mensagem justifica o individualismo, a bênção é para o que tem fé, ela é inalienável e intransferível. Eu soube de uma igreja dessas que, num rasgo de coerência, proibiu qualquer socorro social na comunidade para não premiar os que não tem fé. Assim, quem tem fé tem tudo quem não tem fé não tem nada. Antes, ter fé em Cristo colocava o sujeito na estrada da solidariedade, hoje, nesse tipo de pregação, o coloca no barranco da arrogância. Toda “esperteza” está justificada e incentivada. Não é de estranhar que ética seja um artigo em falta na vida e no “shopping center” de fé desses “ministros”. 

Mas, o que isso tudo tem gerado, de verdade? Decepção, fragorosa decepção é tudo o que está sobrando no frigir dos ovos. As bênçãos mirabolantes não vieram porque Deus nunca as prometeu, e Deus não pode ser manipulado. O sucesso e a riqueza que, porventura, vieram foram mais fruto de manobras “espertalhonas”, para dizer o mínimo, do que resultado de fé. Aliás, para muitos foi ficando claro que o que chamavam de fé, nada mais era do que a ganância que cega, o antigo conto do vigário foi substituído pelo conto do pastor. Gente houve que ficou doente, mas, escondeu; perdeu o emprego, mas, mentiu; acreditou ter recebido a cura, encerrou o tratamento médico e morreu. Um bocado de gente tentando salvar as aparências, tentando defender os seus lideres de suas próprias mentiras e deslizes éticos e morais; um mundo marcado pela esquizofrenia. O individualismo acabou por gerar frieza, solidão e, principalmente, perda de identidade, porque a gente só se torna em comunidade. Tudo isso acontecendo enquanto muitos fiéis observavam o contraste entre si e seus pastores, eles sendo alcançados pela perda de bens, pela angústia de uma fé inoperante, pela perda de entes queridos que julgavam absolutamente curados e os pastores enriquecendo, melhorando sensivelmente o padrão de vida, adquirindo patrimônio digno de nota, sendo contado entre o “jet set”, virando artistas de TV, tudo em nome de um evangelho que diziam ter de ser pregado e que suas novas e portentosas posses avalizavam. 

E onde estão estes decepcionados? E para onde estão indo os seus pares? Muitos estão, literalmente, por aí, perderam aquela fé, mas não acharam a que os apóstolos e profetas da escritura judaico-cristã anunciaram; ouviram o nome Cristo, mas não o encontraram e pararam de procurar. Talvez, estejam perdidos para evangelho; para sempre. Outros, no meio de tudo isso foram achados por Cristo e estão procurando pelo lugar onde ele se encontra. Para os primeiros não há muito que fazer a não ser interceder diante do Eterno, para que se apiede dos que foram vergonhosamente enganados; para os que estão a procura, entretanto, é preciso desenvolver uma pastoral. Eles não estão chegando como chegam os que estão em processo de reconhecimento de Deus e do seu Cristo. Estão batendo às portas das comunidades que julgam sérias com a Bíblia a procura de cura para a sua fé, para a sua forma de ser crente, para a sua esperança de salvação, para a sua falta de comunidade e para a sua confusão doutrinária. Precisam, finalmente, ver a Jesus Cristo e a si mesmos; precisam, em meio a tanta desinformação encontrar o ensino, em meio a tanto engano recuperar a esperança. Necessitam de comunidade e de identidade, de abraço e de paciência, de paz e de alento, de fraternidade e de exemplo, de doutrina e de vida abundante. Quem quer que há de recebê-los terá de preparar-se para tanto, mesmo porque, ainda que certos da confusão a que foram expostos, a cultura que trazem é a única que têm e, nos momentos de crise, de qualquer natureza, será a partir desta que reagirão, até que o discipulado bíblico construa, com o tempo, uma nova e saudável cultura.   

Hoje, para além de tudo o que encerra a sua missão, a Igreja tem de corrigir os erros que, em seu nome, e, em muitos casos, sob a sua silenciosa conivência, foram e, ainda, estão sendo cometidos. 
Ariovaldo Ramos

segunda-feira, 19 de março de 2012

O cristianismo e as religiões



Os discípulos foram enviados pelo próprio Cristo a anunciar o Evangelho a todas as pessoas do mundo. Isso quer dizer que a Boa Nova deve alcançar a todos que tenham ou não religião. Vale lembrar que o evangelho está para além das religiões. Há muitos séculos grande parte dos seres humanos pertence a alguma das grandes religiões mundiais. Será que a mensagem que Jesus solicitou que fosse levada chegou a esses povos? E mesmo que tenha chegado essa boa nova foi entendida? O que é de fato essa boa nova?

Observando a história das missões percebemos que não há mais a possibilidade de repetir o método que foi usado pelos missionários cristãos. A superioridade material ou cultural em relação ao diferente foi um erro terrível no anúncio do Evangelho. Essa postura mostra apenas uma relação de poder e não a relação de amor que é a proposta do Evangelho de Cristo.

O catolicismo tradicional pregou durante muito tempo que apenas se salvariam aqueles que pertencessem à Igreja Católica cumprindo toda a sua doutrina. Por outro lado os protestantes diziam que somente nos seus redutos a salvação se processaria. Os dois seguimentos colocam no inferno os que não aceitam a sua doutrina. Essa postura mostra apenas a arrogância que católicos e protestantes trazem nas suas estruturas quem visam salvar o mundo. É a altivez do poder em detrimento ao anúncio do Evangelho do serviço, do amor.

Muitos missionários no afã de salvar as pessoas do inferno eterno rezavam a cartilha de uma instituição que apenas queria e quer poder. Ao invés de representar Jesus de Nazaré representavam um sistema que está baseado no poder material construído ao logo da história pela cristandade. O fim de todo propósito era manter o poder. E poder cega as pessoas. Os poderosos não têm mais sensibilidade para com a alteridade. Se o poder da instituição é divino tudo é admitido e legalizado. O teólogo José Comblin dizia que “as pessoas podem ter uma consciência individual muito humilde e ser arrogantes no seu comportamento social. Em nome de Deus tudo é permitido, todos os abusos são legitimados”.  A história das religiões mostra que essa era a postura a ser tomada com o apoio dos impérios.

O encontro dos missionários com as religiões mostrou que o objetivo era fazer proselitismo e o meio mais comum era batizar os povos ditos pagãos. O importante era salvar as almas do inferno. O batismo sempre foi mais importante do que a evangelização proposta por Cristo e, o evangelizar era ensinar as doutrinas. Para os cristãos, até o século XX as outras religiões não tinham nada que prestasse, ou melhor, era coisa do demônio para atrapalhar o Reino de Deus, e muito menos elas poderiam ensinar alguma coisa aos cristãos. Sempre a superioridade/poder era o parâmetro para avaliar o pluralismo religioso.

A partir desse período a compreensão teológica, em linhas gerais, mudou em relação à salvação dos povos ditos pagãos. Passou-se a reconhecer que eles tinham algum valor e que poderiam fazer boas obras, mas que sua religião era errada e, portanto, deveriam deixá-la por conta de sua nova vida com Cristo. Os pagãos não eram mais passivos na salvação, mas deveriam negar tudo que existe na sua religião. Fica claro que a mudança foi muito tímida no que consiste o cerne do diálogo no pluralismo religioso. O enfraquecimento dos impérios forçou uma mudança de postura na forma de se fazer missões.

O cristianismo tem dificuldades de dialogar com outras religiões porque ele se achar superior. O cristianismo ainda não aprendeu a dialogar com as diversas vertentes que compõe o mundo cristão e muito menos com os que não são cristãos. Porque o diálogo mostra que os dois têm condições de aprender mutuamente. O problema é que o cristianismo pensa saber tudo sobre a vida e sobre Deus e dessa forma não tem nada a aprender com o diferente. Ao contrário do que muitos pensam, conhecer o diferente fortalece ainda mais o conhecimento de si mesmo. Portanto, a falta de conhecimento do que é Evangelizar leva a falta de diálogo com as religiões e, com isso, instala-se o uso do poder e da superioridade que gera ódio e má notícia ao invés do amor e Evangelização.

De que maneira podemos imaginar o relacionamento entre cada religião e a missão cristã? Cremos que ainda é possível Evangelizar sem excluir ou destruir as culturas e as religiões do mundo. Para isso é preciso o autoconhecimento. Os tempos hodiernos obrigam os cristãos a voltar sobre si mesmos para aprender e descobrir o que é o cristianismo e o que é a evangelização da humanidade. Evangelizar é anunciar a Boa Nova como algo que corrobora na religião e na cultura do outro que consiste na transformação do homem e da mulher em humanos.

Sabemos que os passos dados em direção ao diálogo e ao respeito ao diferente são ainda tímidos. Contudo, já se ouve vozes em prol dessa tarefa que não é fácil, mas necessária no processo de evangelização do mundo e, que precisam ser engrossadas as fileiras desse coral que canta a diversidade e o pluralismo como algo possível.
Fábio Porto