Os
discípulos foram enviados pelo próprio Cristo a anunciar o Evangelho a todas as
pessoas do mundo. Isso quer dizer que a Boa Nova deve alcançar a todos que
tenham ou não religião. Vale lembrar que o evangelho está para além das
religiões. Há muitos séculos grande parte dos seres humanos pertence a alguma
das grandes religiões mundiais. Será que a mensagem que Jesus solicitou que
fosse levada chegou a esses povos? E mesmo que tenha chegado essa boa nova foi
entendida? O que é de fato essa boa nova?
Observando
a história das missões percebemos que não há mais a possibilidade de repetir o
método que foi usado pelos missionários cristãos. A superioridade material ou
cultural em relação ao diferente foi um erro terrível no anúncio do Evangelho.
Essa postura mostra apenas uma relação de poder e não a relação de amor que é a
proposta do Evangelho de Cristo.
O
catolicismo tradicional pregou durante muito tempo que apenas se salvariam aqueles
que pertencessem à Igreja Católica cumprindo toda a sua doutrina. Por outro
lado os protestantes diziam que somente nos seus redutos a salvação se
processaria. Os dois seguimentos colocam no inferno os que não aceitam a sua
doutrina. Essa postura mostra apenas a arrogância que católicos e protestantes
trazem nas suas estruturas quem visam salvar o mundo. É a altivez do poder em
detrimento ao anúncio do Evangelho do serviço, do amor.
Muitos
missionários no afã de salvar as pessoas do inferno eterno rezavam a cartilha
de uma instituição que apenas queria e quer poder. Ao invés de representar
Jesus de Nazaré representavam um sistema que está baseado no poder material
construído ao logo da história pela cristandade. O fim de todo propósito era manter
o poder. E poder cega as pessoas. Os poderosos não têm mais sensibilidade para
com a alteridade. Se o poder da instituição é divino tudo é admitido e
legalizado. O teólogo José Comblin dizia que “as pessoas podem ter uma
consciência individual muito humilde e ser arrogantes no seu comportamento
social. Em nome de Deus tudo é permitido, todos os abusos são
legitimados”. A história das religiões
mostra que essa era a postura a ser tomada com o apoio dos impérios.
O
encontro dos missionários com as religiões mostrou que o objetivo era fazer
proselitismo e o meio mais comum era batizar os povos ditos pagãos. O
importante era salvar as almas do inferno. O batismo sempre foi mais importante
do que a evangelização proposta por Cristo e, o evangelizar era ensinar as
doutrinas. Para os cristãos, até o século XX as outras religiões não tinham
nada que prestasse, ou melhor, era coisa do demônio para atrapalhar o Reino de
Deus, e muito menos elas poderiam ensinar alguma coisa aos cristãos. Sempre a
superioridade/poder era o parâmetro para avaliar o pluralismo religioso.
A
partir desse período a compreensão teológica, em linhas gerais, mudou em
relação à salvação dos povos ditos pagãos. Passou-se a reconhecer que eles tinham
algum valor e que poderiam fazer boas obras, mas que sua religião era errada e,
portanto, deveriam deixá-la por conta de sua nova vida com Cristo. Os pagãos
não eram mais passivos na salvação, mas deveriam negar tudo que existe na sua
religião. Fica claro que a mudança foi muito tímida no que consiste o cerne do diálogo
no pluralismo religioso. O enfraquecimento dos impérios forçou uma mudança de
postura na forma de se fazer missões.
O
cristianismo tem dificuldades de dialogar com outras religiões porque ele se
achar superior. O cristianismo ainda não aprendeu a dialogar com as diversas
vertentes que compõe o mundo cristão e muito menos com os que não são cristãos.
Porque o diálogo mostra que os dois têm condições de aprender mutuamente. O
problema é que o cristianismo pensa saber tudo sobre a vida e sobre Deus e
dessa forma não tem nada a aprender com o diferente. Ao contrário do que muitos
pensam, conhecer o diferente fortalece ainda mais o conhecimento de si mesmo.
Portanto, a falta de conhecimento do que é Evangelizar leva a falta de diálogo
com as religiões e, com isso, instala-se o uso do poder e da superioridade que
gera ódio e má notícia ao invés do amor e Evangelização.
De
que maneira podemos imaginar o relacionamento entre cada religião e a missão
cristã? Cremos que ainda é possível Evangelizar sem excluir ou destruir as
culturas e as religiões do mundo. Para isso é preciso o autoconhecimento. Os
tempos hodiernos obrigam os cristãos a voltar sobre si mesmos para aprender e
descobrir o que é o cristianismo e o que é a evangelização da humanidade.
Evangelizar é anunciar a Boa Nova como algo que corrobora na religião e na
cultura do outro que consiste na transformação do homem e da mulher em humanos.
Sabemos
que os passos dados em direção ao diálogo e ao respeito ao diferente são ainda
tímidos. Contudo, já se ouve vozes em prol dessa tarefa que não é fácil, mas
necessária no processo de evangelização do mundo e, que precisam ser
engrossadas as fileiras desse coral que canta a diversidade e o pluralismo como
algo possível.
Fábio Porto
Fábio,
ResponderExcluirTenho algumas pontuações a respeito desse texto, primeiramente meus parabéns e que Deus continue te usando no reino, pois precisamos de mais pensadores e propagadores desse lindo e verdadeiro evangelho que herdamos de Cristo e somente de Cristo (obs.: o reino não é somente a igreja), segundo gostaria de comentar o diálogo das missões "salvadoras" em sintonia aos regimes políticos e econômicos regentes durante um determinado período da história da humanidade. Especificarei somente na formação da Europa Medieval. Certamente, referente ao catolicismo, a ligação Carlos Magino, houve uma aproximação com a igreja, os interesses territorialistas e as mudanças benevolentes direcionadas ao dia de domingo incentivaram na construção das bases desse evangelho que é detalhado no texto, a moeda de traca dos "servos de Deus" resumia-se na demonstração de poder e na oratória persuasiva, em contra ponto a esse lamaçal encontrava-se o Rei necessitado de seguidores fieis, onde encontrar esse perfil se não nas Igrejas?, hoje, depois de anos de história, ainda ouvimos e presenciamos pessoas "enviadas do céu" para nos ajudar e assegurarmos do futuro, claro, em troca há sempre um valor a ser pagar. Caro amigo, poderia dar exemplos diversos e cansativos da pregação podre e desordeira praticada na troca de interesses políticos e econômicos da Igreja católica e protestantes, mas esse não é o nosso trabalho, infelizmente , isso continua até hoje, sejamos firmes e sinalizadores das questões justas e puras, afirmando que ainda existe vida cristã na terra e há esperança para todos em Cristo Jesus.
Um abração.
Meu amigo não revisei o texto, exemplo: * a ligação com Carlos Magno... * a ser pago... * protestante... abração e desculpa pelos erros.
ResponderExcluirMeu querido Iuri
ResponderExcluirInfelizmente suas constatações estão certas. Diante dessa questões fico a pensar onde vamos chegar com esse evangelho viciado e sem graça. Porque já chegamos em muitos lugares que, no dizer do adágio popular, "até Deus duvida".
Mas, pela graça do Pai somos utópicos e continuaremos firme na sinalização e na busca desse não-lugar chamado Reino de Deus entre os humanos.
Parabéns pela perspicácia história em relação a esse assunto.
um abraço meu nobre.